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domingo, 14 de janeiro de 2007

São Paulo
A cidade mais importante da América Latina

Por Sandra Perruci

São Paulo festeja em janeiro 451 anos de uma grande história, estampada em todas as raças. O pequeno vilarejo fez do Brasil um gigante com sua força econômica, sua face multicultural e sua resistência às adversidades. Tornou-se a maior cidade da América Latina, fruto de gente sempre iluminada, algumas ilustres, outras pouco lembradas e que perambulam por sua história.
Há um personagem que passeia pela memória de São Paulo e quase sempre assume o papel de simples figurante. O português João Ramalho, que vivia por estas terras há muito tempo, antes mesmo da chegada de Martim Afonso de Sousa em São Vicente (1532), pode ser considerado, de fato, o grande pai do Planalto Paulista.
Foi ele quem abriu passagem e ensinou o caminho aos padres jesuítas para chegar a uma região de "ares frios e temperados como os de Espanha". Foi João Ramalho quem venceu a resistência indígena e tornou-se senhor dos campos de Piratininga, o­nde, em 25 de janeiro de 1554, os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta fundaram o Real Collegio de São Paulo.
Portanto, das mãos de João Ramalho (foto à direita abaixo) e do padre Manoel da Nóbrega, São Paulo nasceu numa pequena cabana coberta por sapé, cujo comprimento era de 14 passos e dez de largura, no alto de uma colina. Servia de escola, dormitório, refeitório, enfermaria, cozinha e dispensa, conforme relato do próprio padre Anchieta.
Diretor da Companhia de Jesus no Brasil, Nóbrega foi quem determinou o¬nde seria construído o colégio e, sendo devoto do Apóstolo Paulo, também escolheu o dia deste santo para fundar oficialmente São Paulo de Piratininga. A data foi marcada pela celebração de uma missa em frente à cabana, rezada pelo padre Manuel de Paiva.
Mas, além de João Ramalho e Nóbrega, outro religioso teve presença decisiva na história de São Paulo. José de Anchieta foi figura marcante na consolidação do novo povoado. Colaborou na criação da escola dos jesuítas e ali trabalhou por 10 anos como professor. Juntamente com ele, outros padres ensinavam Língua Portuguesa, Latim, Matemática, Teologia e História. Logo, a primeira cabana tornou-se pequena para a função. Assim, os jesuítas reuniram esforços para construir um novo colégio, inaugurado entre 1556 e 1557.
Neste as paredes eram de taipa de pilão (uma mistura de barro, areia, fibras, sangue e estrume de boi).
É certo que a convivência entre João Ramalho e os jesuítas nem sempre foi boa. Os padres condenavam com veemência seu estilo de vida, seu alto número de filhos e relacionamentos com outras índias, além de Bartira, sua mulher, filha do cacique Tibiriçá. Quando os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil, em 1549, junto com Tomé de Sousa e liderados pelo padre Manoel da Nóbrega, João Ramalho sofreu intensas críticas. Mas os religiosos logo perceberam que sem sua ajuda seria difícil iniciar o trabalho de catequese.
Por volta de 1553, Tomé de Souza, ao escrever ao rei, dizia que João Ramalho tinha "tantos filhos, netos e bisnetos que não ouso dizer a Vossa Alteza, ele tem mais de 70 anos, mas caminha nove léguas antes de jantar e não tem um só fio branco na cabeça nem no rosto".
São Paulo cresceu ao redor do Páteo do Colegio. Em 1560 ganhou foro de Vila e pelourinho, mas a distância do litoral e o isolamento comercial a mantiveram, durante muito tempo, numa condição sem muita importância.
Em 1681, foi considerada cabeça da Capitania de São Paulo e, em 1711, a Vila foi elevada à categoria de Cidade. Dela partiram as "bandeiras", expedições organizadas para procurar minerais preciosos nos sertões distantes.

As mudanças atingem o marco zero

Com a expulsão dos jesuítas da América Latina, em 1760, todas as suas posses foram confiscadas e o colégio, berço de São Paulo, passou a pertencer ao governo. O local passou a ser chamado de Largo do Palácio, abrigando a sede dos capitães generais. A partir daí a área passou por várias mudanças: em 1770, foi palco da sessão inaugural da Academia Paulista de Letras, tornando-se um centro cívico e cultural. Em 1821, recebeu o Governo Provisório de São Paulo, um primeiro passo para a Independência Nacional. No ano seguinte, o Páteo do Colégio (como aparece grafado em placas e documentos) recebeu um ilustre hóspede: após declarar a Independência do Brasil, Dom Pedro I seguiu para lá, o¬nde ficou por 11 dias e escreveu o Hino da Independência.
Já em 1881, o presidente do Estado Florêncio de Abreu determinou uma ampla reforma na fachada do prédio que, depois, com a República, teve sua igreja transformada em Palácio do Congresso.
No início do século 20, o prédio, totalmente descaracterizado, passou a abrigar a Secretaria da Educação e foi demolido em 1953. Felizmente, preservou-se uma parede de taipa de pilão. Na tentativa de resgatar a memória, foi erguido outro prédio no Páteo do Colégio (como aparece grafado em placas e documentos), área que reúne hoje uma capela e Museu de Anchieta (peças de arte sacra, relíquias históricas, quadros, fotografias e objetos recuperados durante as obras realizadas entre 1953 e 1956).

Os donos de Piratininga

Nos tempos da fundação de São Paulo, os tupiniquins dominavam os campos de Piratininga e o Vale do Tietê. O planalto era povoado por várias aldeias tupis. Os índios desciam para o litoral na época do frio para pescar e foram os responsáveis pela criação de várias trilhas, a maioria usada pelos jesuítas e portugueses.
Os tupis eram formados por diversos grupos indígenas, que, na sua maioria, viviam para a guerra. Tinham na sua força e coragem profundo orgulho.
Entre as famílias tupis, predominavam na Ilha de São Vicente os tamoios, quando a expedição portuguesa chegou em 1532.
É importante ressaltar que o cacique Tibiriçá, chefe de uma parte da nação indígena estabelecida nos campos de Piratininga, com sede na aldeia de Inhampuambuçu, foi grande colaborador dos jesuítas e portugueses. Defendeu muitas vezes São Paulo de ataques de outras tribos e facilitou o trabalho de catequese. Seus restos mortais se encontram hoje depositados em uma cripta na Catedral da Sé.
Os índios viviam em bandos. Eram nômades, daí a dificuldade em se determinar com exatidão os pontos o¬nde se fixavam por algum tempo. Também não tinham o costume de escravizar o inimigo, mas de devorá-lo. Nas "caçadas de gente" que promoviam, como registra Hans Staden, cabia às mulheres mais velhas esfolar, cortar e repartir a vítima. Manoel da Nóbrega escreveu que eles engordavam o inimigo vencido para depois devorá-lo. O período de guerras entre portugueses e tamoios não durou muito tempo. Em 12 de maio de 1564, a Câmara de São Paulo registrava: "a Capitania de São Vicente está entre duas gerações de gentes de várias qualidades e forças que há em toda a costa do Brasil, como são os tamoios e topinaquis, inimigos havia muitos anos".



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